Etimologia de Oxalá (‘se Deus quiser’, ‘queira Deus’)

Baseado na expressão árabe law šá lláh, cuja tradução pode se ler ‘se Deus quiser’, também associada a ‘queira Deus’, reflete um profundo sentimento de esperança e desejo, sublinhado pela vontade divina, um conceito que perdurou ao longo dos séculos na cultura e na língua. Porém, a presença e a influência da cultura árabe na África, especialmente no norte do continente, onde o Islã se espalhou amplamente desde o século VII, criaram pontes culturais e linguísticas entre os árabes e os povos africanos. Consequentemente, no Brasil, a palavra oxalá adquiriu camadas adicionais de significado, especialmente dentro dos contextos religiosos afro-brasileiros, como o Candomblé e a Umbanda, que integram elementos das tradições religiosas africanas, do catolicismo e do espiritismo.

Nesses contextos, oxalá é frequentemente associado a uma figura divina, refletindo a sincretização de crenças: Oxalá é um dos orixás do panteão yorubá, associado à criação do mundo e da humanidade, e frequentemente sincretizado com Jesus Cristo no catolicismo. Portanto, enquanto a origem etimológica de “oxalá” não é africana, a palavra foi assimilada e reinterpretada no Brasil.

Da mesma forma, é um exemplo da influência árabe durante a Idade Média, período em que deixou uma marca indelével. Com a Reconquista e o declínio do domínio muçulmano, numerosos termos árabes foram permanentemente integrados no léxico da Europa, entre eles oxalá (em espanhol ojalá, em cujo caso manteve o seu espírito original, embora a sua ligação com a vontade divina tenha sido diluída em muitas sociedades, funcionando como uma expressão de desejo-esperança, sem necessariamente fazer um apelo explícito a Deus), mas, no caso de Brasil, perante o impacto das crenças africanas, no dia a dia o termo foi substituído, por exemplo pelo termo ‘tomara’, ou diretamente a própria expressão ‘se Deus quiser’ ou ‘queira Deus’.

Outras palavras fundamentais no português que foram influenciadas pelo árabe:

Algodão, em árabe alquṭún, sobre o árabe clássico quṭn.

Azeitona, em árabe azzaytúna, sobre o árabe clássico zaytūnah, com base no aramaico zaytūnā, com raiz em zaytā.

Xadrez, em árabe aššaṭranǧ, aššiṭranǧ, sobre a forma do árabe clássico šiṭranǧ, marcadeo pelo persa čatrang, com raiz no sânscrito chaturaṅga.

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